Essencial
Olho para um quadro e não vejo nada. Olho um livro e as folhas não suspiram nada. Uma música e nada. Sinfonias, nada. Nada. Uma angústia, todas aquelas caras empinadas dando sentido, sentindo e eu: nada. Nenhuma catarse, abstração, nada. Não há preenchimento. Nenhum tom, nenhuma metáfora. A arte é um amor pelo filho dos outros, vazio, cheio de nada. Nada. Eu pergunto se só em mim, só em mim não há epifania estética, semi, ótica? Nada. Desfrute. Nada. Preenchido de nada. Fruição de nada. Não tenho nada a criticar, falar comentar, desdizer, debater cortar com foice. Nem motivo, sem divagações. Charutos, drinques, sorrisos e nada. Nada. Não há completude, magnitude. Só repetição de um nada, sobre outro nada. Autógrafos e o abraços é nada. Nobel, nada, jabuti, nada. Escolas, panelas, grupos, nada. Prêmios ao nada. Não há belo que baste, que exista, que funcione. Há o nada. Vernissage, camerata, bocejo. Nada. Desejo. Nada. Sofro, sofro e digo que morro e nada. Crio. Busco na vivência o contato, a sensibilidade, a frutescência. Nada. E percebo que em todo som, toda luz, toda cor e toda palavra. Principalmente na palavra. Há um enredo desabitado que funciona como beijo de irmã. Cheio de noite, cheio de frio, cheio de sangue, cheio de maldição. E nada. Arte de nada, do nada, para o nada. Rasgo meus ouvidos, arranco os meus dedos, oblitero meus olhos e deito. Deito sobre o rio da ars e penso, e não penso, e volto a dizer, arranco a língua e me entrego e me anulo e volto a me subtrair e me reduzo e me afogo e deixo escorrer, cada linha, cada borrão, cada clave de sol e dobro o meu corpo e desfaço meu gosto e me misturo ao tudo.
claudio brites
25/09/2008
SP:SP
6 comentários:
ZED, teu orkut não permite que agente mande recados pra voc~e, então pergunto por aqui:
a segunda oficina queo Carrielo vai ministrar é CONTINUAÇÃO da primeira, ou é a mesma coisa, só que em outro dia?
Continuação, cara. mas pode ir!
eu só mexo onde eu quero
eu só falo onde eu posso
eu me meto nas coisas
e nos cantos
sem causar
espanto
(exceto nos seus textos, claro!)
hahaha
saudades
Eu já conhecia o texto e a impressaõ que tenho dela agora é a mesma que tive no momento em que o conheci: ducaraio! (Só que com uma diferença: minha leitura está muito mais ligada ao sentido do texto à sua construção... isso por conta do vazio que não mais me incomoda, e ainda assim, preenche cada linha do que sou, ou estou.)
um grande beijo Mr. Brites
Bom, fiz minha inscrição no site só hoje de manhã e amanhã vou aparecer lá no Cariello.
Não sei se vai dar tempo de "aceitarem" minha inscrição.
Por favor, me confirma se eu posso aparecer lá, mesmo?
Valeu!
Julio, querida comentar no teu canto, mas é tão difícil.
Postar um comentário