Páginas

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Um exercício

Feito na oficina:

Essencial

Olho para um quadro e não vejo nada. Olho um livro e as folhas não suspiram nada. Uma música e nada. Sinfonias, nada. Nada. Uma angústia, todas aquelas caras empinadas dando sentido, sentindo e eu: nada. Nenhuma catarse, abstração, nada. Não há preenchimento. Nenhum tom, nenhuma metáfora. A arte é um amor pelo filho dos outros, vazio, cheio de nada. Nada. Eu pergunto se só em mim, só em mim não há epifania estética, semi, ótica? Nada. Desfrute. Nada. Preenchido de nada. Fruição de nada. Não tenho nada a criticar, falar comentar, desdizer, debater cortar com foice. Nem motivo, sem divagações. Charutos, drinques, sorrisos e nada. Nada. Não há completude, magnitude. Só repetição de um nada, sobre outro nada. Autógrafos e o abraços é nada. Nobel, nada, jabuti, nada. Escolas, panelas, grupos, nada. Prêmios ao nada. Não há belo que baste, que exista, que funcione. Há o nada. Vernissage, camerata, bocejo. Nada. Desejo. Nada. Sofro, sofro e digo que morro e nada. Crio. Busco na vivência o contato, a sensibilidade, a frutescência. Nada. E percebo que em todo som, toda luz, toda cor e toda palavra. Principalmente na palavra. Há um enredo desabitado que funciona como beijo de irmã. Cheio de noite, cheio de frio, cheio de sangue, cheio de maldição. E nada. Arte de nada, do nada, para o nada. Rasgo meus ouvidos, arranco os meus dedos, oblitero meus olhos e deito. Deito sobre o rio da ars e penso, e não penso, e volto a dizer, arranco a língua e me entrego e me anulo e volto a me subtrair e me reduzo e me afogo e deixo escorrer, cada linha, cada borrão, cada clave de sol e dobro o meu corpo e desfaço meu gosto e me misturo ao tudo.

 

claudio brites

25/09/2008

SP:SP

6 comentários:

Unknown disse...

ZED, teu orkut não permite que agente mande recados pra voc~e, então pergunto por aqui:

a segunda oficina queo Carrielo vai ministrar é CONTINUAÇÃO da primeira, ou é a mesma coisa, só que em outro dia?

Claudio Brites disse...

Continuação, cara. mas pode ir!

JULIO CARVALHO disse...

eu só mexo onde eu quero
eu só falo onde eu posso
eu me meto nas coisas
e nos cantos
sem causar
espanto
(exceto nos seus textos, claro!)
hahaha
saudades

Tiago Bode disse...

Eu já conhecia o texto e a impressaõ que tenho dela agora é a mesma que tive no momento em que o conheci: ducaraio! (Só que com uma diferença: minha leitura está muito mais ligada ao sentido do texto à sua construção... isso por conta do vazio que não mais me incomoda, e ainda assim, preenche cada linha do que sou, ou estou.)
um grande beijo Mr. Brites

Unknown disse...

Bom, fiz minha inscrição no site só hoje de manhã e amanhã vou aparecer lá no Cariello.
Não sei se vai dar tempo de "aceitarem" minha inscrição.

Por favor, me confirma se eu posso aparecer lá, mesmo?
Valeu!

Claudio Brites disse...

Julio, querida comentar no teu canto, mas é tão difícil.