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segunda-feira, 8 de março de 2010

Ruminando Pondé

Esqueça esse papinho besta de que você nasceu na época errada; que outros tempos que eram bons; que antigamente a coisa tinha sentido. Não, o mundo sempre foi assim, o silêncio infinito de nossa solidão, a nossa falta de sentido sempre esteve por aí, mas a preenchiamos com nomes de deuses e colávamos na parede de nosso quarto o pôster de uma banda qualquer e as coisas pareciam mais coloridas. Mas o tempo é o tempo, e as traças comem tanto os cantos do pôster, quanto as folhas do seu livro sagrado favorito. Não que não possa haver sentido, mas ele não vem pronto, você o risca nas paredes da caverna, como sempre. Quem tem consciência disso, que a vida é feita à mão, por mais que a tecnologia diga que ela pode ser mais soft, se dá bem, mas quem acha o contrário toma na cabeça e não adianta olhar para o céu. Pare de querer voltar para o grande útero, ele está seco, a natureza não está irritada conosco, se vingando de nossa indolência, ela nunca foi nossa amiga. Falar de lei da selva não é por acaso, meu caro. Leopardos podem dormir na sua cama, o Pit bul pode ainda não ter mordido sua mão, mas entre ele e você, pode ter certeza, ele não salvará a sua pele em detrimento da dele: instinto de preservação. E não fique chorando pela injustiça do sistema capitalista e compondo músicas de prosteto, toda ideologia é só, mais ou menos, mais maquiagem para disfarçar sua vida mesquinha. Nossa vida pequena. E se tem solução, claro que não. A vida é cruel, sempre foi. Desde sempre. E será assim para sempre, sem amenidades. Ela exige dinheiro e sacrifício. Ela é trágica. E a consciência disso é um passo evolutivo. E não adianta só ter essa consciência, é pegá-la e fazer alguma coisa com ela, como fez Shakespeare. O pessimismo é força de caráter diante da mania de ter os olhos cheios de esperança diante das utopias desbotadas, não acreditar na felicidade, ou na salvação pega mal pra danar, eu sei. Antes isso, a palestras de auto-ajuda. Deixe-nos sonhar! Você retumba. A ingenuidade é uma dádiva, eu confesso. Rezo por ela todos os dias.

6 comentários:

Brontops disse...

nascemos em

época errada:

é pouco errada.




(Gostei)

Abs

Claudio Brites disse...

Que bom que gostou. Difícil isso acontecer....rs

Kizzy Ysatis disse...

Eita pregação pessimista! É quase um tratado à resignação. Lembre-se que antes dos vermes vem primeiro a morte.

Anônimo disse...

No entanto é um ótimo texto.

Kizzy

Guilherme disse...

O grande problema da vida é ter de trabalhar. O trabalho acaba com qualquer ânimo. Diz-se que o trabalho dignifica. Mentira. Dignifica o ócio. Criativo. A pureza das coisas de rompantes. Eternas e incondicionais. A liberdade do incotidiano.

Kizzy Ysatis disse...

Gui, eu assino embaixo, mas advirto que tal liberdade é para poucos. A mente humilde e vulgar, sem trabalho, adoece na vagabundagem e no crime; ao contrário da mente do artista que no ócio se sublima.