Páginas

sexta-feira, 25 de julho de 2008

ELC, o GRANDE final.

Os últimos serão os primeiros, bem batido isso, mas funcionou. A fala desta sexta-feira do Encontro de Literatura Contemporânea organizado pelo Digestivo Cultural na Casa Mario de Andrade teve um final de primeira. Elisa Buzzo, Fabrício Carpinejar e Antonio Prata fizeram o arroz feijão preparado por Júlio Daio Borges ter um sabor danado de bom. Mesmo nosso Grande Irmão mantendo as rédeas curtas a conversa teve um sacomolejo de primeira. A crônica foi muito bem tratada no papo. Nem na oficina que eu fiz com o Joaquim Ferreira e com o Arthur Dapieve ela foi tão esmiuçada, invadida, a safada.
Começou por Antonio Prata que a definiu como “Épico do Mínimo”. No seu papo cheio de humor e certezas disse que escreve desde sempre, não vive de livros e crônicas, mas de matérias e artigos para revistas conhecidas. “As idéias vêm do choque entre dois assuntos que não tem nada haver”. Quando Júlio perguntou das influências que sofreu de seus pais, o pai nada menos que Mario Prata, o moço respondeu que influência é uma palavra muito fraca “os caras me ensinaram a falar e andar!”. Observou ainda que: tem gente que vê a literatura como Cebion, quanto mais escritores (água) é como ela diluísse. Prata desfez um paradigma que trago há anos, de que a crônica não vem de cronos como dizem e sim de Corona, Coroa, pois o cronista escrevia para o rei, o que ele via no dia-a-dia. Falou ainda que não existe esse papo dela ser brasileira, há crônica no mundo todo.
E Carpinejar mandou que “fugir das influências dos pais é a maior forma de ser influenciado por eles”. Carpinejar é um cara ímpar. Simpático e talentoso realizou praticamente uma performance durante a reunião cotando que morar ao lado de um terreno baldio foi uma das suas maiores influências, pois o escritor compõe seu maquinário de ser a partir do lixo dos outros, é um coveiro de animais... Poeta, o organizador do Curso de Formação de Escritores da Unisinos mostrou que domina o estar em público como poucos. Falou dessa ânsia em confundir gerações com turminhas e que nessa catalogação alguns autores se perdem. O escritor tem que ser ávido, fofoqueiro e na crônica ele perde a neutralidade. Esquematizou que o conto tem uma história visível e uma invisível, Marcelino chama de sombra; a crônica torna o invisível visível logo de cara, evoca uma estranheza e o autor, mesmo usando um personagem, toma um partido diante das coisas e diz. Crônica é a literatura sem suspensório e quando é falsa morre ao ser publicada em livro.
Elisa Buzzo, pela formação mais jornalística, foi o ponto de equilíbrio na mesa. Receosa nas afirmações que caiam mais para o mundo jornalístico, já que nessas Carpinejar levantava da cadeira, a poetisa fortaleceu a briga de foice que sempre houve por esse gênero. Não que Elisa tenha tomado algum dos partidos. Ficou ali, questionando tanto quanto Júlio.
Da crônica Carpinejar e Prata falaram que muito do que tem aí não é crônica, é artigo, coluna. A crônica é o espaço da literatura no jornal e a necessidade de pegar um gancho com a notícia tem feito ela se perder. “A crônica é o que não é e nunca será notícia”, cantou Carpinejar, “é uma hermafrodita da literatura”, surgiu dentro do jornal mas não é jornalística, filha da ineficiência é uma embaixadinha literária, completou Prata. O Moço de Caxias do Sul ainda falou que o cronista que quer ser unânime não é cronista, me fazendo lembrar do caráter marginal que Nelson de Oliveira atribui a literatura.
Com histórias e ilustrações dignas de reprise é muito difícil descrever a mesa mais amarela de todas, assim como os óculos abelhão do Carpinejar. É um daqueles momentos que só vivendo mesmo. Sr. Brontops e Tiago Bode me acompanharam e concluímos que foi um dos melhores bate-papos sobre literatura que já presenciamos. A melhor opção é ouvir o mp3 no site do Digestivo.
Finalizo com a resposta que Carpinejar deu para o Bodosco quando ele perguntou da dita necessidade de humor na crônica nacional:
“Eu dou risada no desespero. Tem horas que você ta tão fudido que nada mais te magoa. É o otimismo que vem do fundo do poço”.
Nossa! E pena que acabou.
T+

Um comentário:

Denize Muller disse...

Nem sei porque você ainda se espanta. tu é cheio de talentos (fetinho rsrsrsrs).
Um escritor maravilhoso, um pai dedicado, um amigo fiel, profissional questionador.Você merece cada palavra...
Te amo ! Parabéns!
Bjs Denize Muller